sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Vastidão

 

Você está perdido,

Perdido na própria pele,

Procurando e procurando,

Cada caminho de suas veias,

Cada fissura da sua alma,

Pra onde vai o sangue,

Pra onde vai a células que morrem,

As células vão deteriorando como cinzas no ar,

Evaporando a carne,

O ar invade os pulmões

E saem desnorteados,

Perdem-se na vastidão

E se misturam no vão,

Um óleo cáustico peregrina sobre o corpo,

Deslizando do peito até as entranhas,

A mente entorpece

E deixa a realidade sonolenta,

Os caules de uma planta envolvem meu corpo

Feito uma corda que aperta

E aproxima os pés com as mãos,

Me violenta e me surra.

 

 

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Um texto perdido

 Acho que todos, creio eu, dizendo melhor, alguns, não conseguem viver tudo o que gostariam, pela falta de coragem ou pelo excesso de medo. O resultado não seria a incapacidade de não conseguir viver o bastante, e sim a preguiça que se manifesta com entardecer da vida e a tranqüilidade das circunstâncias, pois a respiração ainda não está ofegante e  esperam chegar ao fundo do mar para voltarem a respirar e lutarem pra viver.

O agonizante não é perceber que existiu por um difuso e inexistente período, no qual passou por múltiplos lugares e olhares, e sim se terá tempo  de fazer  algo indiferente antes que o prazo esgote.

O desespero envolve como  estivéssemos ligados a um cronômetro e o mundo tivesse tempo para uma eternidade, e ficamos procurando com anseio algo que nos preencha, como se o externo mudasse algum sentimento do que teríamos sentido antes.


(escrito perdido de uns anos atras)

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Maternidade





A maternidade é doar-se inteiro,
A carne, a alma,
A mente tenta manter-se intacta
Pois está sempre em alerta e inquieta
Num corpo tão cansado,
Que esconde as dores em sorrisos.
A maternidade é ser governado,
Ter o sono roubado, e se tornar um velho ditado.
A maternidade é uma ambiguidade bipolar
Que chora de raiva e amor,
O coração para e apressa,
O desejo de passar depressa,
Alguns detalhes quer sem pressa
Com o tempo que resta,
Mas a vida se empresta
E o desespero se arresta
Com o amanhã incerto,
Mas o amor contesta,
E acalma o aperto.

O aleitar



Meu novo perfume é leite,
É nutriente,
É doce
Pra que meu filho deleite.
Foi dúvida de sustento,
Um amargo que passou no peito,
A ansiedade que vestiu o leito,
Mas virou água e alimento.
Flui minha alma entre seus lábios,
Acalenta e dilata sua pele,
Vai esticando, vai estendendo,
Seus pés, suas mãos,
Quando foi que cresceu assim?!
Quando foi que te vi assim?!
Já desisti e persisti,
Os prantos como gatos noturnos
Saíam fazer festa em meu rosto,
Bagunçavam minha feição,
Mas retornavam a luz do dia,
E nada tinha acontecido,
Renascia e renascia,
E continuo renascendo.
O aleitar
É nutrir livremente e se desnutrir mentalmente,
Um desgaste que vem e vai embora,
Mas depois você enxerga sua alma entregue
Em outro corpo e nada de si importa,
A dor não importa,
O sono não importa,
Pois é a maior prova de amor
Onde duas almas se encontram
E se tocam.

sábado, 3 de julho de 2021

Combustão

 

Ela dói,

É prazerosa,

É sádica.

 

Ela arde,

Vicia,

É masoquista.

 

Ela é gelo que queima,

Queima só por baixo,

Uma cinza intacta

Que não desmancha,

Mas mancha o sangue,

Escurece e escurece.

 

É combustão da alma

Que inflama a pele,

O ar crema todas as células.

 

A fumaça podre alastra sob a carne

É irrespirável.

O oxigênio cava e faz cócegas de dor,

O sopro arde.

Enigma de luz

 

Há sinos de desespero tocando

E chamando minha alma

Invadindo minha psique

Deteriorando minha esfinge

Mas, sem decifrar-me

Logo, os devoro

Pois, a luz que cresce dentro do meu ventre

Cria enigmas indecifráveis

Silenciando-os outra vez.

Indiferente

 

Manifesta-se uma interpretação de estranheza,

A alma indiferente num mundo alheio

Uma mistura de egoísmo e solidão

Vencida pela apatia do anseio.

Lembranças estranhas que cruzam a mente,

Elas mentem?!

Quem sou eu?

Quem é o estranho ao meu lado?

Quem são vocês de olhar afiado?

Um demasiado medo de mudanças                                                                   

Carrega a incerteza em forma de lança

Que penetra e oxida o âmago da minha existência.

Onde está o sentimento de pertencer a algum lugar?

De ter um colo?

Do direito em estar triste?

De merecer os sentidos das minhas palavras?

Elas perderam seus significados?

Uma mão de desespero aperta a garganta,

Sinto a pulsação dilatar em toda minha superfície,

Latejando e rastejando.

É tudo um grande circo

Do qual sou o palhaço triste

Que faz a platéia rir.

Minhas lágrimas matam a sede dos outros

E mal sabem eles que vou me afogar com elas depois.

Quanto mais perto de me encontrar

Mais longe estou,         

De tal modo que o Eu que me pertence

Acaba tornando a parábola do porco-espinho.

 

 

sábado, 28 de novembro de 2020

Alma anestesiada

Ela está com a alma anestesiada,
Virou um corpo sem expressão,
Arriscou pensar, mas foi tortura,
Tentou refletir o real e a angustiou.
A parte esquerda do seu peito arde,
Com cócegas agonizantes que esfolam.
Ela tenta se distrair e romper o real,
E a loucura a toma,
Seus sentimentos são um suspiro de propofol,
Mas ela finge que está bem,
Está tudo bem,
Seus sentimentos são melodias do Nirvana,
Mas que não foram cantadas
E sua garganta está doendo mesmo com anestesia,
As cordas vocais sem voz,
O desespero já sugou toda melodia
E entorpeceu suas veias
Matando a sede com a apatia.

Ela não pode estar mal,
Não pode,
Ela é culpada,
Culpada por não estar bem,
Ninguém a permite sofrer,
Ela é ingrata,
Então pegue pregos,
E martele um sorriso,
Que vai matar a sede com sangue e dor,
Mas por fora está tudo bem,
Ninguém se importa,
Ela só tem que estar feliz,
E essa felicidade também nada importa,
Só que sem ela você é inútil pra eles,
e no fim é tudo fingimento.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Afaste-se


Ser enigmático anseio entender,
O porquê a pele arde quanto mais desfruto você.
Suas melodias não alcançam minha alma,
E nem me acalmam,
Mais indecifrável se torna minha angústia
E minha culpa.

Escorreguei num abismo qualquer
E meu corpo sente a queda sem fim que esfria meu sangue,
Não há chão,
Não há luz,
Não há fim,
Apenas a gravidade me comendo viva.

Não alcanço respostas certas,
Pois as respostas que gostaria de entregar
Estão me arranhando por baixo desta carne,
E talvez arranhassem seu coração junto.

É injusto,
Seu ar não me pertence,
Não posso respirar,
Iríamos nos infectar.

Tem algo pulsando meu peito sem hesitar,
Estou perdendo forças lutando contra meu organismo,
Mas ele insiste em me dilacerar,
É estar em pedaços sem conseguir morrer.

Quanto mais meu sono você rouba
Mais rastejo envenenando suas veias,
Talvez só queira magoá-lo.

Quero converter sua cautela
Em borbulhas no seu estômago,
Será nosso segredo de angústia.

Quando decifrar seus mistérios
Vou destroçar toda sua alma,
Seu corpo,
Sua mente,
Sua decência.

Meus impulsos vão devastar você.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Mundo submerso


Estranho, distraído,
Tudo corrompido.
Quem são vocês?!

Estão salivando caos,
Bons ou maus.

A estupidez alheia

Minha garganta
Cheia de areia,
Se respirar sufoca
Mais e mais.

Solo arenoso
Afunda a alma.

Não se mexa!
O mar está vindo pegar.

Movediça, movediça,
Não é fácil flutuar.

Corpo agitado desce
Cada vez mais,
Mais,
Mais,
Mais,
Mais.
Áspero, Submerso.  

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A liberdade é um estranho

Talvez sejas,
talvez desejas,
quem te beijas?!  
És estranho,
és malandro,
quem és santo?
Sem olhares,
sem calor,
liberdade em guerra.
És dor desejar,
Oh! adorável platônico,
vens eu me inconsciente
abraçar-me,
teus suspiros transcendentes
com dentes vem devorar
meus cantos insanos
e nada santos.
Oh! desconhecido que maltratas,
apresenta-me loucura,
surra-me,
e com silêncio manda-me embora,
logo escondo-me
com as borboletas no estômago
e nada deixo escapar,
coração há de se acalmar.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Diferenças

Nesse circo as diferenças são desavenças,
o conjunto único de ideia seduz um grupo de guerra,
a mutação e expansão intelectual são entradas de ódio 
de mentes megeras, 
ninguém aceita um novo conceito,
é ausência de respeito da nova era,
e há quem bate no peito
e pelos outros nada tem feito.
Há sempre ouvidos para uma língua com defeito.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Atração magnética


Há um campo magnético anoréxico
sendo mastigado por ferros execráveis.
Essa fome suga com energia as peças vivas que
ali ensaiam como ser feliz.
O palco explora almas carregadas
de um enorme peso em si.
Tantas essências,
 tantas demências,
o mundo é contagioso.

Os ferros vão deglutir quem tem ombros de ímãs,
tal atração
que faz sempre o bom carregar o mau.
Quanto mais tenta correr mais pesado fica,
e quanto mais pesado mais estático se torna.

A mente até consegue escapar, mas a alma continua sentada,

quem insistir mais peso há de sobrecarregar.

sábado, 24 de junho de 2017

Erro existencial

Não sei se dói mais em mim ou em você duvidar,
talvez eu precise apenas de uma bebida forte
para encorajar ou escapar.
O pior é quando me sinto vivo, eu me desespero.
Talvez por ter protagonizado a vida passar, assim tão fácil.
E o tempo mais desesperado que eu nem quis saber de esperar.
Eu teria que fazer muita coisa agora para alcançar, mas algo novamente me impede,
o mesmo que eu duvido que valha a pena.
Sei que amanhã já será tarde.
Todas as coisas que eu deixei de amar,
 todas as coisas que me trariam coragem,
todas as coisas que me fariam crescer,
todas as coisas que teriam me transformado num outro eu, ou um novo.
Todos os lugares que eu deveria ter conhecido,
todas bebidas que eu teria vomitado.
Todos os lugares eu estaria agora,
todas filosofias que eu teria enlouquecido,
e todas batidas de violão que pulsariam minha mente
e me levariam para outros bosques cantar amor.
Mas agora fico nesse quarto com a voz do Bob Dylan me surrando,
fazendo eu querer ir embora, mas parece que eu gosto dessa gaita
rasgando meu peito.

Minhas lágrimas não valem mais a pena.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

CINZAS

CINZAS VIVAS,
VIRA CINZA,
OLHOS CINZA,
CINZAS AZULADAS,
MONTANHAS ACINTENZADAS,
ICERBEGS AZUIS,
CORDILHEIRAS SOLITÁRIAS,
OLHOS MEUS,
MUNDO MEU.
QUEM OLHA ENXERGA O MUNDO,
O MUNDO QUE OLHOS ESCONDEM,
REFLETE O MUNDO DE QUEM SE ESCONDE,
NOS MEUS OLHOS QUEIMA
QUEM SE ESPELHA,
VIRA CINZA,
MINHA CINZA.




quinta-feira, 6 de abril de 2017

Quem sabe

Quem sabe teria lido mais Nietsche,
Teria aprendido a partitura de Wagner,
Deveria ter tentado,
Ou me matado ao som de Johnny Cash.
Talvez se tivesse apenas,
Apenas tentado.
Poderia saber usar as teclas do piano,
E minha alma dançar a sonata,
Para a dor vibrar na tábua harmônica.
Talvez se não tivesse a demonstração
De um sorriso tão facilmente,
Não teria enganado a tristeza,
E a não teria agora.
Talvez tivesse aprendido
Com os poemas de Bob Dylan,
E também tornaria os meus
Melodias.
Quem sabe poderia tocar um blues,
Sentar no chão com aqueles mendigos
Que acreditaram,
E das minhas teorias gostavam.
Talvez já tivesse um livro pronto,
E meus poemas não seriam apenas
De um amador.
Quem sabe eu poderia ajudar
Ao invés de ser ajudado,
Quem sabe um filósofo hoje eu seria,
E minha voz teria mostrado
A quem aplaudiria.


segunda-feira, 27 de março de 2017

Eles vão se destruir

Estou de nenhum lado,
Eles vão se destruir,
É a guerra do poder e a do saber.
É a corrosão do ser,
Já não há luta,
Só obsessão,
É obsessão, obsessão do não.
O fanatismo embutido,
Paradoxo invertido.

A Guerra dos direitos
Torna-se guerra dos prazeres,
Da língua se começa e da espada se termina.

É o ego que vira morfina
E vicia,
Assassina.

A razão é cretina.

A lei determina,
O cálice se cria,
Extermina.


Quem é você meu eu?!

Houve um momento em que abria os olhos já com o coração acelerado, como se a realidade me assustasse, um choque a cada despertar, e a cama era o limbo.  E como vim parar aqui não sei. Não sei onde comecei a ser o observador da própria vida, aquele que mal sabe a história que guia. Virei plateia desentendida. É um estranho no espelho, é um corpo alheio. Quem é você? Por que me olha?Tenho medo de você.


Amigo ausente

Quem vai?
Quem fica?
Explica.
Volta?
Foi embora.
Quem ajuda?
Às vezes fica.
A saudade?
Continua.
Que distância,
Que vago.
Amizade?
É memória
De quem ausenta,
E do coração nunca partiu.
Os caminhos?
Nunca são os mesmos.
E o lar?
Amigos retornam.
E o declínio?
Amigos levantam.
A ausência?
É física.
A lembrança?
Uma dor plena.
amigo?
Um irmão que partiu,
E sempre retorna ao lar
Do coração que sentiu.

sábado, 11 de março de 2017

Perdido agora

Acordei um tanto antigo,
Romântico esquecido.
Se hoje uma pétala me tocar,
A epiderme vai queimar.
Quando aquela música começar,
O coração há de disparar.
A melodia que do passado retorna
Agora de dor me contorna.
A falta do eu daquele momento
Que o agora precisa,
Mas ele é mutável.
Não será encontrado
E aprender necessita.
Acordei um tanto à flor da pele
E me senti vivo,
A saudade me serviu um banquete
E cá estou empanturrando
As borboletas do estômago.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Um breve choro

Engole o choro,
Choro que arrasta,
Arrasta como ferro esmagando os olhos,
Olhos que pesam,
Queimam o rosto,
O vermelho exposto,
Não disfarça,
Vai queimando,
A pele seca, murcha, escurece,
É sangue que assa no ferro,
Faz bolhas que aquecem,
Ferve a mente,
Que adoece.


Me usam

Mais uma vez,
Eles me usam.
Consumindo-me
Reprimindo-me.
Devoram-me de dentro para fora,
E me tomam para extinguir.
Sem reagir,
Sem existir.

É o marasmo da mente indiferente,
Do coração apático,
De felicidade aparente,
Mas não transcende.

Melancolia camuflada,
Engolida.
Exibido
É o sorriso falsificado
De uma mente sucumbida.

Engole a apatia
Todos os dias.
Despersonalização se cria,
Grita,
Grita,
Ninguém é real nessa biografia.

E eu uso-os,
Devoro-os,

E nem choro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Minha religião

Minha religião é um homem faminto,
É invisível,
A felicidade são algumas migalhas.
Os olhares julgam e não ajudam.
O chão vazio é melhor que as mãos cheias de sangue.
Minha religião é o cão,
Caçando de lixo em lixo,
Ferido por sapatos pontudos,
Os mesmos que entraram no santuário
E rezaram.
Minha religião é o ódio,
Percorre de ouvido em ouvido,
Alimentado por bocas,
As mesmas que mastigam a hóstia.
Minha religião são todas,
A mente e a alma,
É o bem pela mão,

É compaixão pelo homem e pelo cão.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Precisamos falar de Augusta

Precisamos falar de Augusta
O sonho é mais real que sua vida,
Seus passos não tem sombra,
Seus olhos não tem cor.

Os sussurros que caminham ao vento
Não fazem barulho,
E o grito nem vibra a garganta.

Ela apertou suas mãos contra os espinhos,
E não conseguiu se perfurar.

Seu jardim de rosas foi
Corrompido pelas papoulas
E sua vida transformada em ópio.

Ela foi até o inferno e o diabo não encontrou.

O que ainda vive é o medo,
Ah! O medo, ele sim tem valor.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

livres, somos

Como animais selvagens,
Somos.
Acostumados a usar algemas
E soltos como bestas adestradas,
Na liberdade não sobrevivemos.
Dependentes da carne,
Dependentes do luxo,
Dependentes do perdão,
Dependentes de carência,
Dependentes de nós.
Da solidão teme,
O vicio contamina a liberdade,
A liberdade de não depender,
Depender do medo do não.
Quando livre, não vive.
O abandono é dor,
Dor da dependência,
Do egoísmo que adormece no colo.
Não temos donos, mas queremos estar presos,
Queremos ser donos da própria gaiola
E manter ela fechada.
A mão que nos solta,
É a mesma que nos liberta,
Mas já sem saber como apreciar a selva,
Ignoramos,
E de angústia nos tornamos,
Pois temos medo da solidão
E do não.
Livres nascemos,
A prisão escolhemos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A canção

Ouça essa canção,
Você pode ouvir,
Já está na metade
Não quero que termine
É o melhor masoquismo musical que já experimentei,
Preciso injetá-la nas veias.
Ei ei,
Parece meu coração cantando,
É uma dor deliciosa,
Um piano que toca com minha alma,
Uma voz que cresce no meu ouvido
E arrasta para dentro queimando-me inteiro.
Ei ei,
Você pode ouvi-la,
Agora meu coração esta acelerando novamente.
Quero fazer amor com essa melodia
preciso beijá-la,
Se for preciso, beber essas lágrimas.
Ei ei,
Sei que pode ouvi-la,
Volte e a ouça
Apenas tente,
Ela vicia
Preciso muito matar-me com ela.
Ei ei,
Não tenha medo,
Apenas ouça,
Pode doer,
Mas é incrível,
Sua alma arde nessa apatia toda.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A cretina política

Estou de nenhum lado,
Eles vão se destruir,
É a guerra do poder e a do saber.
É a corrosão do ser.
Já não há luta,
Só obsessão,
É obsessão, obsessão do não.
O fanatismo embutido,
Paradoxo invertido.

A Guerra dos direitos
Torna-se guerra dos prazeres,
Da língua se começa e da espada se termina.

É o ego que vira morfina
E vicia,
Assassina.

A razão é cretina.

A lei determina,
O cálice se cria,
Extermina.




sexta-feira, 27 de maio de 2016

O fraco é culpado

Sua alma foi roubada,
Sua carne dilacerada,
Inocência arruinada,
Seu útero invadido,
Prazer contido.

É o peito suado,
É corpo molhado,
Que sofre calado,
É volúpia que surra,
Moléstia sem cura.

Gemido soluçado,
Carcaça frisada,
Profundeza humilhada.

Mulher calada,
Criança internada,
Menino acolhido,
Marmanjo bandido.

Vítimas da culpa,
Culpa que rasga,
O grito engasga.

Angústia do mito,
Feito vinho tinto
Saboreia num leito derramado
De prazeres famintos.

O seio amamenta
O trauma calado
Da amargura lenta
Que a dor violenta.


quinta-feira, 26 de maio de 2016

A cultura do estupro





Bichos carniceiros,
macho carnívoro
antes,  agora,
o futuro imaturo,
tentação natural?
impulso do mortal?
apologia da justificação
o mau.
Chão inseguro,
fica escuro.
É órgão faminto,
aliciante,
anestesiante,
é estupro,
estupro da alma,
da carne,
é a dor acariciante,
a cultura da desculpa,
ninguém culpa,
alguém escuta?
A fome do errante,
É cicuta que toma,
elas tomam,
quando nascem,
quando amam,
quando erram,
o castigo é o berro,
o berro de repressão,
cortam a língua,
cala-se,
é suja,
o gatilho que puxa,
é acusada por se esposa,
amante,
prostituta,
aceite com culpa,
fique muda,
é puta.
Cultivo do assédio,
não há remédio,
sempre tem justificativa,
é violentada por ser exibida,
a dor fica proibida,
cultura do estupro,
é condenada por ter nascido mulher,
julgada por um coletivo de monstros
que são aplaudidos
por um bando de bandidos.
Arranque a mordaça,
acabe com essa raça,
abuso não tem graça.
é dolorido.