segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Minha religião

Minha religião é um homem faminto,
É invisível,
A felicidade são algumas migalhas.
Os olhares julgam e não ajudam.
O chão vazio é melhor que as mãos cheias de sangue.
Minha religião é o cão,
Caçando de lixo em lixo,
Ferido por sapatos pontudos,
Os mesmos que entraram no santuário
E rezaram.
Minha religião é o ódio,
Percorre de ouvido em ouvido,
Alimentado por bocas,
As mesmas que mastigam a hóstia.
Minha religião são todas,
A mente e a alma,
É o bem pela mão,

É compaixão pelo homem e pelo cão.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Precisamos falar de Augusta

Precisamos falar de Augusta
O sonho é mais real que sua vida,
Seus passos não tem sombra,
Seus olhos não tem cor.

Os sussurros que caminham ao vento
Não fazem barulho,
E o grito nem vibra a garganta.

Ela apertou suas mãos contra os espinhos,
E não conseguiu se perfurar.

Seu jardim de rosas foi
Corrompido pelas papoulas
E sua vida transformada em ópio.

Ela foi até o inferno e o diabo não encontrou.

O que ainda vive é o medo,
Ah! O medo, ele sim tem valor.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

livres, somos

Como animais selvagens,
Somos.
Acostumados a usar algemas
E soltos como bestas adestradas,
Na liberdade não sobrevivemos.
Dependentes da carne,
Dependentes do luxo,
Dependentes do perdão,
Dependentes de carência,
Dependentes de nós.
Da solidão teme,
O vicio contamina a liberdade,
A liberdade de não depender,
Depender do medo do não.
Quando livre, não vive.
O abandono é dor,
Dor da dependência,
Do egoísmo que adormece no colo.
Não temos donos, mas queremos estar presos,
Queremos ser donos da própria gaiola
E manter ela fechada.
A mão que nos solta,
É a mesma que nos liberta,
Mas já sem saber como apreciar a selva,
Ignoramos,
E de angústia nos tornamos,
Pois temos medo da solidão
E do não.
Livres nascemos,
A prisão escolhemos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A canção

Ouça essa canção,
Você pode ouvir,
Já está na metade
Não quero que termine
É o melhor masoquismo musical que já experimentei,
Preciso injetá-la nas veias.
Ei ei,
Parece meu coração cantando,
É uma dor deliciosa,
Um piano que toca com minha alma,
Uma voz que cresce no meu ouvido
E arrasta para dentro queimando-me inteiro.
Ei ei,
Você pode ouvi-la,
Agora meu coração esta acelerando novamente.
Quero fazer amor com essa melodia
preciso beijá-la,
Se for preciso, beber essas lágrimas.
Ei ei,
Sei que pode ouvi-la,
Volte e a ouça
Apenas tente,
Ela vicia
Preciso muito matar-me com ela.
Ei ei,
Não tenha medo,
Apenas ouça,
Pode doer,
Mas é incrível,
Sua alma arde nessa apatia toda.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A cretina política

Estou de nenhum lado,
Eles vão se destruir,
É a guerra do poder e a do saber.
É a corrosão do ser.
Já não há luta,
Só obsessão,
É obsessão, obsessão do não.
O fanatismo embutido,
Paradoxo invertido.

A Guerra dos direitos
Torna-se guerra dos prazeres,
Da língua se começa e da espada se termina.

É o ego que vira morfina
E vicia,
Assassina.

A razão é cretina.

A lei determina,
O cálice se cria,
Extermina.




sexta-feira, 27 de maio de 2016

O fraco é culpado

Sua alma foi roubada,
Sua carne dilacerada,
Inocência arruinada,
Seu útero invadido,
Prazer contido.

É o peito suado,
É corpo molhado,
Que sofre calado,
É volúpia que surra,
Moléstia sem cura.

Gemido soluçado,
Carcaça frisada,
Profundeza humilhada.

Mulher calada,
Criança internada,
Menino acolhido,
Marmanjo bandido.

Vítimas da culpa,
Culpa que rasga,
O grito engasga.

Angústia do mito,
Feito vinho tinto
Saboreia num leito derramado
De prazeres famintos.

O seio amamenta
O trauma calado
Da amargura lenta
Que a dor violenta.


quinta-feira, 26 de maio de 2016

A cultura do estupro





Bichos carniceiros,
macho carnívoro
antes,  agora,
o futuro imaturo,
tentação natural?
impulso do mortal?
apologia da justificação
o mau.
Chão inseguro,
fica escuro.
É órgão faminto,
aliciante,
anestesiante,
é estupro,
estupro da alma,
da carne,
é a dor acariciante,
a cultura da desculpa,
ninguém culpa,
alguém escuta?
A fome do errante,
É cicuta que toma,
elas tomam,
quando nascem,
quando amam,
quando erram,
o castigo é o berro,
o berro de repressão,
cortam a língua,
cala-se,
é suja,
o gatilho que puxa,
é acusada por se esposa,
amante,
prostituta,
aceite com culpa,
fique muda,
é puta.
Cultivo do assédio,
não há remédio,
sempre tem justificativa,
é violentada por ser exibida,
a dor fica proibida,
cultura do estupro,
é condenada por ter nascido mulher,
julgada por um coletivo de monstros
que são aplaudidos
por um bando de bandidos.
Arranque a mordaça,
acabe com essa raça,
abuso não tem graça.
é dolorido.  

terça-feira, 24 de maio de 2016

Aproximar é devorar

Não toque!
Tua pele tem dentes,
Dentes que mordem
E comem minha fraqueza,
Devoram a carne.
O medo consome,
Farta a incerteza.

Afaste,
Não faça
Consumir isto.

Epiderme é fraca,
É suspeita,
Resisto e resisto.

Este corpo congela,
Estremece a vontade
Que lateja,
Nada resta,
Só a pressa que pulsa
A cobiça que me empresta.

Come a alma depressa,
Depressa, sem pressa.

Basilisco

Aqueles versos antigos 
Recusaram o ponto final
Para voltar a fazer sentido.
Mente que mente,
Persista fingindo,
Pele que geme
Continua pedindo.
Carne carnívora,
Olhos mortíferos
Envenenam como basiliscos.
Como serpentes da coroa dourada,
Se nossos olhares fixarem
Viro seu próprio reflexo,
E morreremos antes do próximo verso.

sábado, 21 de maio de 2016

Quem sabes

Quem sabe tu sabes,
O Inevitável que 
Ausentamos interromper,
Se aceitar
A mente vai romper,
O desejo vai salivar,
E o desgosto vai custar
No peito de quem receber.




segunda-feira, 9 de maio de 2016

o tempo não para, quem para é a gente

O tempo pega,
Pega quem tem medo,
Quem tem medo de não parar o tempo.
E nele ficar parado.
O tempo não para,
Mas há quem pare nele,
Achando que o tempo parou,
Mas quem para é a mente
Porque o tempo nunca para,
Quem para é a gente.

sorrir dói

Percebi que quando a tristeza se achega,
O sorriso também se apresenta,
Quanto mais se alonga na expressão,
Mais o rasgo da angustia aumenta.

Quanto mais vozes sussurram,
Maior a solidão,
E o não.


quinta-feira, 31 de março de 2016

mente com pressa

Minha mente não descansa, cansa,
Está agitada, parada.
Lapidada, ainda há esperança.
É guerra, valhalla espera,
Os mortos dançam
Enquanto a porta não fecha.
Quem vê a pressa, o tempo calha,
A mente falha
E a noite não passa,
A mente vira palha
Que queima depressa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Desespero amamentado

Está batendo,
Está batendo,
Está batendo.
O desespero é lento,
Mas ele está batendo.
É um espinho que entra pelo pé
E sobe rasgando,
Se arrastando até a garganta,
Rastejando, rastejando,
Como se passasse um ferro quente por baixo da pele
E seu ardor inflama o estômago,
E é tão ardido que falha o ar.
Os órgãos vão falecendo com a fumaça,
Enfraquecendo, escurecendo.
Não pode gritar, não pode ajudar,
A saliva que se engole empurra o grito
Para o presídio construído dentro de mim
Que não deixa se manifestar,
É apenas soluço seco
Que vem com tanta pressão
Que rompe as grades,
Elas transformam lanças pontiagudas
E ficam abrindo rasgos que nunca fecham.
Fecha e abre olhos esperando passar,
Não passa, não passa.
Visão está toda manipulada,
A mente confunde realidades,
Mas a dor é igual em todas elas,
O desespero bate cada vez com mais força
Em meu leito,
Já criou garras e dentes,
Estou o amamentando com meu próprio sangue,
Com a alma anêmica adoeço em troca de meu peito.