sábado, 3 de julho de 2021

Combustão

 

Ela dói,

É prazerosa,

É sádica.

 

Ela arde,

Vicia,

É masoquista.

 

Ela é gelo que queima,

Queima só por baixo,

Uma cinza intacta

Que não desmancha,

Mas mancha o sangue,

Escurece e escurece.

 

É combustão da alma

Que inflama a pele,

O ar crema todas as células.

 

A fumaça podre alastra sob a carne

É irrespirável.

O oxigênio cava e faz cócegas de dor,

O sopro arde.

Enigma de luz

 

Há sinos de desespero tocando

E chamando minha alma

Invadindo minha psique

Deteriorando minha esfinge

Mas, sem decifrar-me

Logo, os devoro

Pois, a luz que cresce dentro do meu ventre

Cria enigmas indecifráveis

Silenciando-os outra vez.

Indiferente

 

Manifesta-se uma interpretação de estranheza,

A alma indiferente num mundo alheio

Uma mistura de egoísmo e solidão

Vencida pela apatia do anseio.

Lembranças estranhas que cruzam a mente,

Elas mentem?!

Quem sou eu?

Quem é o estranho ao meu lado?

Quem são vocês de olhar afiado?

Um demasiado medo de mudanças                                                                   

Carrega a incerteza em forma de lança

Que penetra e oxida o âmago da minha existência.

Onde está o sentimento de pertencer a algum lugar?

De ter um colo?

Do direito em estar triste?

De merecer os sentidos das minhas palavras?

Elas perderam seus significados?

Uma mão de desespero aperta a garganta,

Sinto a pulsação dilatar em toda minha superfície,

Latejando e rastejando.

É tudo um grande circo

Do qual sou o palhaço triste

Que faz a platéia rir.

Minhas lágrimas matam a sede dos outros

E mal sabem eles que vou me afogar com elas depois.

Quanto mais perto de me encontrar

Mais longe estou,         

De tal modo que o Eu que me pertence

Acaba tornando a parábola do porco-espinho.