sexta-feira, 27 de maio de 2016

O fraco é culpado

Sua alma foi roubada,
Sua carne dilacerada,
Inocência arruinada,
Seu útero invadido,
Prazer contido.

É o peito suado,
É corpo molhado,
Que sofre calado,
É volúpia que surra,
Moléstia sem cura.

Gemido soluçado,
Carcaça frisada,
Profundeza humilhada.

Mulher calada,
Criança internada,
Menino acolhido,
Marmanjo bandido.

Vítimas da culpa,
Culpa que rasga,
O grito engasga.

Angústia do mito,
Feito vinho tinto
Saboreia num leito derramado
De prazeres famintos.

O seio amamenta
O trauma calado
Da amargura lenta
Que a dor violenta.


quinta-feira, 26 de maio de 2016

A cultura do estupro





Bichos carniceiros,
macho carnívoro
antes,  agora,
o futuro imaturo,
tentação natural?
impulso do mortal?
apologia da justificação
o mau.
Chão inseguro,
fica escuro.
É órgão faminto,
aliciante,
anestesiante,
é estupro,
estupro da alma,
da carne,
é a dor acariciante,
a cultura da desculpa,
ninguém culpa,
alguém escuta?
A fome do errante,
É cicuta que toma,
elas tomam,
quando nascem,
quando amam,
quando erram,
o castigo é o berro,
o berro de repressão,
cortam a língua,
cala-se,
é suja,
o gatilho que puxa,
é acusada por se esposa,
amante,
prostituta,
aceite com culpa,
fique muda,
é puta.
Cultivo do assédio,
não há remédio,
sempre tem justificativa,
é violentada por ser exibida,
a dor fica proibida,
cultura do estupro,
é condenada por ter nascido mulher,
julgada por um coletivo de monstros
que são aplaudidos
por um bando de bandidos.
Arranque a mordaça,
acabe com essa raça,
abuso não tem graça.
é dolorido.  

terça-feira, 24 de maio de 2016

Aproximar é devorar

Não toque!
Tua pele tem dentes,
Dentes que mordem
E comem minha fraqueza,
Devoram a carne.
O medo consome,
Farta a incerteza.

Afaste,
Não faça
Consumir isto.

Epiderme é fraca,
É suspeita,
Resisto e resisto.

Este corpo congela,
Estremece a vontade
Que lateja,
Nada resta,
Só a pressa que pulsa
A cobiça que me empresta.

Come a alma depressa,
Depressa, sem pressa.

Basilisco

Aqueles versos antigos 
Recusaram o ponto final
Para voltar a fazer sentido.
Mente que mente,
Persista fingindo,
Pele que geme
Continua pedindo.
Carne carnívora,
Olhos mortíferos
Envenenam como basiliscos.
Como serpentes da coroa dourada,
Se nossos olhares fixarem
Viro seu próprio reflexo,
E morreremos antes do próximo verso.

sábado, 21 de maio de 2016

Quem sabes

Quem sabe tu sabes,
O Inevitável que 
Ausentamos interromper,
Se aceitar
A mente vai romper,
O desejo vai salivar,
E o desgosto vai custar
No peito de quem receber.




segunda-feira, 9 de maio de 2016

o tempo não para, quem para é a gente

O tempo pega,
Pega quem tem medo,
Quem tem medo de não parar o tempo.
E nele ficar parado.
O tempo não para,
Mas há quem pare nele,
Achando que o tempo parou,
Mas quem para é a mente
Porque o tempo nunca para,
Quem para é a gente.

sorrir dói

Percebi que quando a tristeza se achega,
O sorriso também se apresenta,
Quanto mais se alonga na expressão,
Mais o rasgo da angustia aumenta.

Quanto mais vozes sussurram,
Maior a solidão,
E o não.