terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Desespero amamentado

Está batendo,
Está batendo,
Está batendo.
O desespero é lento,
Mas ele está batendo.
É um espinho que entra pelo pé
E sobe rasgando,
Se arrastando até a garganta,
Rastejando, rastejando,
Como se passasse um ferro quente por baixo da pele
E seu ardor inflama o estômago,
E é tão ardido que falha o ar.
Os órgãos vão falecendo com a fumaça,
Enfraquecendo, escurecendo.
Não pode gritar, não pode ajudar,
A saliva que se engole empurra o grito
Para o presídio construído dentro de mim
Que não deixa se manifestar,
É apenas soluço seco
Que vem com tanta pressão
Que rompe as grades,
Elas transformam lanças pontiagudas
E ficam abrindo rasgos que nunca fecham.
Fecha e abre olhos esperando passar,
Não passa, não passa.
Visão está toda manipulada,
A mente confunde realidades,
Mas a dor é igual em todas elas,
O desespero bate cada vez com mais força
Em meu leito,
Já criou garras e dentes,
Estou o amamentando com meu próprio sangue,
Com a alma anêmica adoeço em troca de meu peito.